quarta-feira, 28 de maio de 2008

Pura ironia

A miséria é o tópico central do premiadíssimo trabalho do diretor Jorge Furtado. Com acidez retrata o funcionamento mecânico da sociedade de consumo. Com um tom super divertido, o curta acompanha a trajetória de um tomate, desde a plantação até ser jogado fora, para escancarar o processo de geração de riqueza e as desigualdades que vão surgindo ao longo do caminho até o destino final do saboroso fruto vermelho.
A característica mais marcante do curta-metragem Ilha das Flores é a profusão alucinada de imagens. É como se tudo fosse uma verdadeira colagem. Esse esquema um tanto quanto enlouquecedor é o que torna o filme imperdível.
O humor inteligente de Jorge Furtado nos leva a olhar a sociedade em outros olhos. E até os tomates passamos a olhar com outros olhos.

Gênero Documentário, Experimental
Diretor Jorge Furtado
Ano 1989
Duração 13 min



domingo, 25 de maio de 2008

Sessão da tarde com jiló.

Como havia prometido no post "Estréias" finalmente assisti a um dos filmes que estreiavam naquela semana. Infelizmente, nesse feriado, o único que resistiu na programação foi O melhor amigo da noiva (Made of honor, USA/UK, 2008).

Algumas pessoas vêm comparando O melhor amigo da noiva a O casamento do meu melhor amigo. Sim, os dois filmes possuem títulos e temáticas parecidas. Mas acabam aí as semelhanças. Isso porque ao contrário do segundo, o primeiro filme citado (o melhor amigo da noiva) não possui uma personagem (ou uma atriz) forte como a de Julia Roberts, nem um bom humor, muito menos um desfecho que honre a inteligência do público. Ele possui roteiro fraco e usa clichês chatos.
O filme conta a história de Tom (Patrick Dempsey), um rico mulherengo que não quer compromisso, e Hannah (Michelle Monaghan), sua amiga desde a faculdade. Os dois são inseparáveis e tudo corre bem até que Hannah viaja a trabalho para a Escócia. Com a partida da amiga, Tom percebe que a ama e decide pedi-la em casamento quando ela voltar. O problema é que Hannah não volta sozinha. Ela retorna noiva de um belo duque escocês. Como se não bastasse, ela pede que Tom seja madrinha de seu casamento. O enredo todo se desenvolve a partir da tentativa de Tom de ser a perfeita madrinha para que, assim, consiga conquistar Hannah.
Até aí tudo bem. O problema surge quando os clichês começam a saltar aos olhos do público. Nada contra clichês. Afinal, eles se tornaram o que são justamente porque dão certo. Mas, não é necessário que se faça uso de tais recursos com tanta veemência, sem surpreender o público nem um pouco, reforçando tolos estereótipos (como a gordinha desesperada para casar e emagrecer e a loira invejosa oferecida) tornando o filme chato e infantil. O diretor, Paul Weiland, parece se perder no meio da trama e deixa bem claro que não sabe em que direção deveria conduzir o filme.
Porém, nem tudo é perdido. O filme ganha na primeira e na última cena quando tenta brincar com as figuras de Bill e Hillary Clinton e a de Monica Lewinsky.
Pena que a enorme publicidade e o desejo de comparação com outros títulos não consigam esconder o fato de que O melhor amigo da noiva é como uma sessão da tarde com jiló: nada de novo com gosto muito ruim.

Enquanto isso em Cannes...(parte 2)

Termina hoje o 61º Festival de Cannes. Entre os premiados podemos destacar a brasileira Sandra Corveloni que ganhou o prêmio de melhor atriz pelo filme de Walter Salles "Linha de Passe". Segue a lista dos demais premiados:

Palma de Ouro: "Entre les murs" do francês Laurent Cantet

Grand Prix: "Gomorra" do italien Matteo Garrone

Prêmio do Júri: "Il Divo" do italiano Paolo Sorrentino

Melhor Atriz: a brasileira Sandra Corveloni ("Linha de Passe")

Melhor Ator: o porto-riquenho Benicio del Toro ("Che")

Melhor Diretor: o turco Nuri Bilge Ceylan ("Three Monkeeys")

Melhor Roteiro: os belgas Jean-Pierre et Luc Dardenne ("O silêncio de Lorna")

Palma de Ouro para Curta-metragem: "Megatron", do romeno Marian Crisan

Câmera de Ouro: "Hunger", do inglês Steve McQueen

Prêmio especial do 61º Festival de Cannes: a atriz francesa Catherine Deneuve ("Un conte de Noël") e o ator e diretor americano Clint Eastwood ("The Exchange")

sábado, 24 de maio de 2008

Prazer sem limites

Vale a pena ver, ver de novo e ver outra vez. Isso se as longas cenas filmadas em tomada única, os diálogos que nada tem a haver com a narrativa e a violência, as drogas e o sexo como forma de humor, forem dignos da sua paciência. Em contrapartida, Boogie Nights tem uma trilha sonora muito bem escolhida e personagens incrivelmente marcantes.
Sob a direção de Paul Thomas Anderson, o filme, cuja personagem principal é a pornografia em si e os rumos que ela pode dar aos demais personagens, conta a história de um jovem de dezessete anos que vira ator de filme pornô ao conhecer o mestre do gênero Jack Honer. As drogas, o dinheiro fácil e a diversão ilimitada e desregrada acabam atrapalhando sua vida e sua carreira de fenômeno da cinematografia pornográfica.
O mais marcantes de todos é o personagem vivido por Mark Wahlberg. Marcante não só pelo fato de seu membro ser aberrativamente grande. Mas também por sua trajetória de vida que começa com uma escalada rumo ao sucesso e culmina em um fracasso total. O mérito do filme é justamente o retrato muito bem feito do apogeu e declínio de Eddie (Wahlberg) em função das drogas e de sua própria personalidade deslumbrada e arrogante.
Julianne Moore teve uma atuação incrível durante todo o filme: uma mulher maternal, doce e gentil, que em meio a toda sua esquisita sensatez, cheira cocaína enlouquecidamente e transa com o cara por quem diz sentir amor de mãe. Tem que ser muito boa atriz pra fazer um papel tão complexo. E a ruiva é.
Os atores que vivem os personagens coadjuvantes, contudo, não ficam de fora do mérito de excelente atuação. Em nenhum momento eles se comportam como coadjuvantes. Todos eles têm seu universo próprio e, embora, convivam com os protagonistas, não vivem em função deles. A naturalidade com que atuam é envolvente.
Fique atento: as cenas em que Wahlberg representa Eddie representando o sensacional ator pornô Dirck Diggler não mostram o avantajado membro responsável pelo sucesso devastador do personagem. Durante todo o filme há apenas uma instigante, mas nada sutil, sugestão. Mas na última cena...
Veja!

Para ver antes de morrer

Lançado no final dos anos 50, Quanto mais quente melhor ataca o puritanismo da época fazendo a melhor insinuação sexual da história do cinema na célebre frase “Ninguém é perfeito”.
Uma comédia romântica com dois travestis que tem inicio em um massacre. Tony Curtis e Jack Lemmon estão hilários como os músicos que testemunham tal massacre e fogem travestidos numa banda feminina que tem Monroe como vocalista completamente pirada e maluca.
O melhor do filme é a Merylin, claro. Linda, divina e, principalmente, gordinha. Com muitos quilinhos a mais para o atual padrão de beleza, ela se encaixa perfeitamente na palavra “sensualidade”. A palavra foi criada para ela e ela para a palavra. Não há dissociação.
Poderosa e sensual era o estereótipo para a mulher dos anos 50 que a atriz representava muito bem. Sua beleza garantiu seu espaço de atriz mais importante da história do cinema. Merylin Monroe sobrevive até hoje como símbolo sexual, tendo sido escolhida em 1999, a mulher mais sexy do século pela People.

Título original: Some Like It Hot
Direção: Billy Wilder
Premiação: um Oscar e Globos de Ouro de Melhor Filme, Ator e Atriz
Duração: 120 min. PB

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Paulo Coelho em Hollywood

Os fãs de Paulo Coelho poderão curtir sua mais famosa história agora no cinema. 'O Alquimista' vai virar filme de Hollywood.
A divulgação dos detalhes da adaptação do best-seller foi feita em Cannes. A rodagem inicia em 2009. O longa será dirigido por Lawrence Fishburne e custará mais de US$ 60 milhões. Pasmem! Mas nem tanto. A história de um jovem pastor que, após ter um sonho repetido, decide partir em uma busca do auto-conhecimento, não deveria sair muito barato mesmo.
Colocar na telona os grandes mistérios que acompanham a humanidade desde o início dos tempos aos quais o protagonista da trama de Paulo Coelho se vê lançado, parece ser o grande desafio do magnata do cinema.
Lawrence Fishburne recebeu uma indicação ao MTV Movie Awards de Melhor Dupla, por "Matrix" (1999). Participou de vários filmes de sucesso como Quebrando a banca, Quarteto Fantástico e o Surfista prateado e Missão impossível 3. Mas foi em Apocalipse Now, do gênio Francis Ford Coppola, que o astro negro americano faz sua aparição relevante.

Veja o trailer de Apocalipse Now.

domingo, 18 de maio de 2008

Enquanto isso em Cannes...

O Festival de Cannes é o mais famoso festival de cinema do mundo. Criado em 1946, ele acontece todos os anos, no mês de maio, na cidade francesa de Cannes. Esse ano, em sua 61ª edição, o festival traz em sua mostra competitiva filmes como "Ensaio sobre a cegueira”, do aclamado Fernando Meirelles, e "Linha de passe" do também brasileiro Walter Salles.

Para aqueles que não resistem a um bom tapete vermelho:



sábado, 17 de maio de 2008

Sexo, cidade e cinema

Estreio dia 15 em Berlin. Quando será que 'Sex and the city, o filme' vai chegar ao Brasil?
Se a série já conquista milhões de corações e mentes, imaginem o filme!
Veja trailer

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Estréias

A sexta-feira é o melhor dia. Não só porque ela representa o prenúncio do final de semana mas, também, porque é nela que estréiam filmes por todo o país. Na nossa pequena Grande Vitória as estréias são:
Um beijo roubado
(My blueberry Nights, Hong Kong/China/França, 2007)
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=iScGsN8szHw

Dois dias em Paris
(2 Days in Paris, Alemanha/França, 2007)
Trailer:http://www.youtube.com/watch?v=td3nAWM_aic

O melhor amigo da noiva
(Made of Honor, EUA/Inglaterra, 2008)
Trailer:http://www.youtube.com/watch?v=pRzHFQ09I90

Maré, nossa história de amor
(Maré, Nossa história de amor, Brasil/França/Uruguai, 2007)
Trailer:http://br.youtube.com/watch?v=OjpOsI4UcUs

A blogueira que aqui vos escreve pretende assistir a um dos filmes acima citados e comentá-los aqui. Aguardem, portanto, o próximo post.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Tropa da elite da cidade Deus direto para Cannes

O filme do cineasta brasileiro, Fernando Meireiles foi bem recebido na abertura de Cannes.
O filmes Blindness, a mais recente obra do cineasta latino americano mais pop dos últimos tempos, que seria o responsável pela sessão inaugural nesta quarta-feira, parece ter agradado.
Baseado no livro de José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, o filme trás para o audiovisual a degradação humana de uma forma que vai muito além da imaginação.
Segundo o Fernando, a personagem principal do filme, a cegueira, é, além de física, psicológica, sociológica, política.
O portal de noticias G1 publicou esta manhã detalhes sobre a noticia.
http://colunas.g1.com.br/redacao/2008/05/14/apos-estreia-tensa-em-cannes-meirelles-e-elenco-quebram-o-gelo-em-entrevista/

domingo, 11 de maio de 2008

Deliciosamente bruto

Um dos grandes diretores da atualidade, consagrado por filmes como Fale Com Ela, Tudo Sobre Minha Mãe e Carne Trêmula, Pedro Almodóvar é singular pela forma pitoresca com que retrata temáticas envoltas em toneladas de preconceito. A polêmica está no exagero. O fascínio é inevitável.
Além das características que sempre nos impressionam nos filmes de Almodóvar: cores berrantes, personagens passionais, homossexualismo, melodrama, tramas com grandes viradas e trilhas sonoras de canções marcantes; em A lei do desejo, o diretor espanhol apimenta a trama com o tabu do incesto e a incógnita do desejo de homens heterossexuais por travestis.
Em seu sexto filme, o diretor de Volver, explora o limite entre o amor e obsessão, preconceito e desejo, sexualidade e família. A lei do desejo narra a história de Pablo (Eusébio Poncela), um diretor de teatro, apaixonado por um rapaz que não o ama. Numa das muitas festas que freqüenta, Pablo conhece um rapaz apaixonado por ele e disposto a ter o seu amor sob todas a formas. Em meio a isto, temos a Tina (Carmen Maura), irmã transexual de Pablo que mudou de sexo para manter um relacionamento incestuoso com pai, e que protagoniza as peças de Pablo. Nessa trágica comédia dramática, uma pitoresca história de amor faz inúmeras referências ao complexo comportamento masculino, fomentando, de forma chocante, uma série de reflexões sobre paixão e sexualidade.

De astro do futebol a personagem de Almodóvar

O desejo por travestis rendeu destaque na mídia nos últimos dias devido ao escândalo do qual o jogador de futebol mais famoso do mundo, Ronaldo Nazário, fez parte. Ele foi com um grupo de três travestis do Rio de Janeiro ao hotel Papillon e, durante a madrugada, desentendeu-se com um deles, Andréia Albertini. Acabaram todos na delegacia, de onde a história ganhou o mundo. E a moral do jogador, o lixo. A partir daí, a pergunta que não quer calar é: por que homens adultos e heterossexuais arriscam a segurança e a reputação para sentir prazer nos braços (só braços ?) de travestis?
Reportagem publicada pela Revista Época no dia 10/05/2008 tenta esclarecer esse desejo que aos olhos da maioria das pessoas é inexplicável e pra lá de esquisito.
“Mendes tem 37 anos, cabeça raspada e brinco na orelha direita. Pelos modos e pela aparência, o rapaz branco de família evangélica não se distingue de outros milhões de jovens paulistanos, exceto por uma particularidade importante: ele namora um travesti, Flávia. Os dois se conheceram há cinco anos no centro de São Paulo e, de lá para cá, constituem um casal. Na semana passada, sentado ao lado de Flávia na sala de um apartamento na Rua General Osório, Mendes explicava, em voz pausada, as bases da relação. “Nosso relacionamento é hétero”, afirma. Isso quer dizer que, no sexo, ele é a parte viril do casal, enquanto Flávia cumpre o papel de mulher. “Mas entre nós não existe só sexo. A gente tem amor e cuida um do outro.” Com cabelos negros e corpo esguio, Flávia ganha a vida se prostituindo nas ruas. Ele trabalha nas ruas como vendedor” (trecho da matéria de Época).
Leia a reportágem na íntegra.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG83628-6014-521-1,00-POR+QUE+HOMENS+PROCURAM+TRAVESTIS.html

Veja um vídeo no qual o psiquiatra Ronaldo Pamplona, autor do livro Os onze sexos, fala sobre as diferenças entre homossexuais e travestis e analisa o que leva homens casados a buscar sexo com travestis

domingo, 4 de maio de 2008

Minuciosamente Belo

O estado de desencontro inerente ao ser humano; o desejo constante de se compreender; e como o fato de se inserir em novas terras pode tornar a busca por respostas mais evidente. É isso e muito mais que Encontros e desencontros (Lost in translation, EUA, 2003) busca mostrar.
O filme escrito, produzido e dirigido por Sofia Coppola (filha do grande diretor Francis Ford Coppola) conta a história de Bob Harris (magnificamente interpretado por Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson, também em uma ótima atuação). Ele, um ator fracassado, casado há 25 anos e com uma vida tediosa. Ela, uma jovem que acabou de se formar e possui muitas incertezas em relação ao seu futuro profissional e seu casamento.
Em viagem ao Japão, os dois americanos encontram-se e constroem uma amizade e cumplicidade que beira o amor, uma conexão de almas que dispensa palavras. Tóquio é a cidade-palco do encontro e sua beleza torna-se inegável. A câmera participa das cenas de forma ativa, regulando o olhar do público e direcionando-o às belíssimas paisagens. Mostra-se uma cidade misteriosa, com seus costumes e luzes.
Sofia obtém sucesso ao conseguir mostrar as discrepâncias culturais e lingüísticas de forma simples e com um toque de humor sarcástico e perspicaz. Outro sucesso da diretora é a trilha sonora. Além de ser belíssima, há uma sincronia perfeita entre as músicas e o silêncio arrebatador. Aliás, o silêncio possui papel muito importante na obra. É ele o grande responsável pelo grau de sensibilidade presente nas minúcias –como quando Bob acaricia os pés de Charlotte, em uma cena feita em plano alto. Há, ali, um grau de intimidade maior do que se houvesse uma relação sexual entre os protagonistas.
Sucesso de crítica, vencedor do Oscar de melhor roteiro original e de três Globos de Ouro (melhor ator, melhor roteiro e melhor filme) Encontros e Desencontros vale a sua ida à locadora.

Site oficial do filme:

Mais informações sobre o filme:

Trailer:

sábado, 3 de maio de 2008

O desinteresse como ele é

HOTEL RUANDA é um filme que impressiona quem o assiste, sobretudo por ser uma emocionante história real.
Oitocentos mil cidadãos da minoria étnica tutsi foram massacrados por extremistas hutus em apenas 100 dias em Ruanda, na África, numa guerra civil em 1994.Esse conflito não era ignorado pelas nações ocidentais, até porque a televisão transmitia o início dos acontecimentos,mas elas adotaram uma posição indiferente e preferiram não intervir, subestimando a gravidade do conflito.
HOTEL RUANDA não é um documentário mas retrata de forma satisfatória o massacre. Relata a história de Paul Ruseasabagina (Don Cheadle), um hutu que gerencia um hotel em Kigali, capital do país. Quando a guerra estoura, o hotel recebe proteção da ONU, porque está cheio de estrangeiros. E Paul, casado com uma tutsi, aproveita para hospedar e salvar da morte 1268 pessoas da mesma etnia de sua esposa. O filme sugere que a origem do genocídio está na ocupação belga de 1918 a 1962, quando os tutsis foram privilegiados em relação aos hutus.
De 1918 a 1961, Ruanda-Burundi é um protetorado das Nações Unidas, governado pela Bélgica. A minoria tutsi é favorecida com privilégios em detrimento da maioria hutus. Entre 1962 e 1990, Ruanda e Burundi tornam-se nações independentes. Os hutus assumem o poder e criam novas leis, como as que restringem 9% dos empregos aos tutsis. Metade deles deixa o país.Os conflitos intensificam-se. Em 1993, o presidente hutu Habyarimana assina um acordo de paz e 2500 soldados da ONU vão para Ruanda. Em 1994, o presidente é morto num acidente aéreo_ uma parte do plano hutu de extermínio de lideranças tutsis e também moderados hutus. Nesse ínterim, milhares de pessoas estão sendo mortas, mas os soldados da ONU recebem ordens para não intervir. Países estrangeiros mandam tropas de resgate de seus cidadãos que vivem ou passeiam em Ruanda. O Conselho de Segurança da ONU vota pela retirada da maioria de suas tropas em Ruanda. Milhares de pessoas fogem do país para Tanzânia, Burundi e Zaire. O presidente Bill Clinton assina tratado que limita o envolvimento militar dos Estados Unidos em operações internacionais de paz. A ONU, admitindo que pode ter havido genocídio, manda mais 5500 soldados para Ruanda, porém com muitos dias de atraso. Em julho de 1994, os tutsis reassumem Kigali e o genocídio acaba. Em cerca de 100 dias, 800 mil pessoas mortas.
Hoje as principais lideranças mundiais admitem publicamente que a Organização das Nações Unidas demorou a notar a gravidade do problema e intervir. A omissão da sociedade internacional protagoniza o filme de Terry George. Essa omissão pode ser explicada pela inexistência de petróleo ou de ouro em Ruanda, fazendo com que esse lugar não seja atraente. E não havendo interesse em riquezas não há interesse em vidas humanas perdidas. Caso contrário, certamente a intervenção seria imediata.

Veja o trailer

A graça é sentir o cinema

Saber ver um filme é quase como fazê-lo. Este universo de luz não seria possível sem a imersão sentimental do expectador, cujo olhar é conduzido pela diversidade de sons, canções, textos, imagens, texturas e movimentos de câmera capazes de criar uma deslumbrante e assustadora dimensão.
A história do cinema parafraseia a história mundial do século XX em diante, na qual a ascensão dos Estados Unidos como potência econômica, cultural e ideológica; o terror da Segunda Guerra Mundial; o triunfo do capitalismo e a derrocada do comunismo e a afirmação de identidades até então colonizadas no resto do mundo estão brilhante ou grosseiramente, retratadas ou exaltadas, explícita ou implicitamente incutidas em milhares de filmes sob os mais diversos ângulos. A ideologia é construída e construtora.
Épico, musical, anime, comédia romântica, terror, cult, western, nouvelle vague, pop. Todos estes estilos e tendências compõem e são compostos pelo imaginário do expectador. Formadores e resultantes de uma apropriação simbólica que agrega à eficiência econômica um universo de delírios e esperanças da qual a literatura e o teatro se beneficiam mutuamente. Beneficio, este, criador de clássicos do cinema que fazem com que o vestido branco de uma loira estonteante, a dança apaixonada na chuva, as favelas violentas do Rio de Janeiro e o olhar sarcástico de Clarck Gable sejam suficientes para trazer a tona um mar de sensações inexplicáveis.